Apoteose do Radiohead



Fotos: Ugo Sangiorgi

Depois de muitos anos de espera, o Radiohead finalmente apareceu por terras latino americanas. Em turnê do seu álbum mais recente, In Rainbows, os ingleses deixaram a platéia brasileira extasiada na Praça da Apoteose na última sexta, dia 20.

"Boa nôitchi, nos somos o Radiohead" disse Ed O'Brien, guitarrista e back vocal, depois de tocar a empolgante 15 Step na abertura do show carioca. Nesse momento já deviam estar presentes aproximadamente 25 mil pessoas que lotaram a Praça da Apoteose (aquela mesma do carnaval), distribuídas em maioria na pista mas também nas arquibancadas. Ouvi um amigo dizer ao meu lado que Thom Yorke era pequeno, engraçada a constatação de que os ídolos são caras normais. Thom Yorke era uma cara normal, de jeans e camiseta, com tanta energia que transbordava das suas extremidades: mãos, pés, as pontas dos cabelos lisos, quase faíscas se mexendo de um lado a outro. Aquele do palco era diferente do vocalista reservado e até seco que estamos acostumados a ver nas entrevistas. A mesma energia tinha o público que dançava, cantava, gritava.

Quando There There, a terceira da noite, foi anunciada por Thom Yorke, o coração da platéia - assim como as palmas - pareceu bater em uníssono com os tambores tão característicos da canção. A multidão extasiada cantou em coro a música inteira. Nessa e em outras faixas, Colin Grennwood, baixista, ia até a frente do palco batendo palmas, animando o público numa interação gostosa.

O cenário e a iluminação eram compostos basicamente de três telões - um no fundo do palco e dois nos lados -, fortes refletores e colunas de LED, que pendiam sobre todo o palco como estalactites modernosas. Simples e eficiente. Os LEDs são uma fonte de luz de baixo consumo de energia, seu uso faz parte da postura ecologicamente correta do grupo. Os tubos eram responsáveis pelo quê fantástico da iluminação: as luzes ali dentro mudavam de cores e posição de acordo com a música, mudando também o clima do show. Em Weird Fishes, por exemplo, davam a sensação de que a banda estava sob um oceano, com a luz azulada e pontinhos dourados "boiando" na mesma altura em todos eles. Nos telões, um quebra-cabeças de quatro partes com imagens dos músicos em diversos ângulos, fornecidas pelas dezenas de câmeras espalhadas pelo palco (escondidas atrás das colunas, penduradas sobre os instrumentos e em outros cantos). É bom registrar que toda a parafernália do show foi transportada de navio, também de acordo com a atitude verde da banda.

A imagem de ângulo mais curioso foi também do ápice da interação com o público: quando Thom Yorke sentou no piano para tocar You and Whose Army?, havia uma câmera que ficava tão próxima ao seu rosto que só se via os olhos. Ele olhava para a lente e assim encarava o público através do telão, uma sensação de intimidade inédita. Aquele rosto ali mostrava o quanto ele é humano, exibindo com detalhes a expressão que faz quando canta, mostrando de perto seus olhos tortos, piscando devagar em êxtase no momento da canção. A platéia acompanhou novamente, cantando mais alto a cada vez que Thom Yorke pedia mais levantando os braços. Quando o último acorde foi tocado, O'Brien disse sorridente e satisfeito em bom português "Bom prha carhalho". O mesmo O'Brien é o responsável pala maioria daqueles back vocals ecoados, que parecem passar flutuando pela música.

A apresentação foi, além de um show do In Rainbows, uma boa amostra da obra do Radiohead. O In Rainbows foi executado na íntegra, mas hits de todos os outros seis álbuns estiveram presentes. Em Idioteque, do Kid A, a banda dançou freneticamente numa perfeita simbiose com o balé do público. Just, do The Bends, foi uma surpresa geral, por ser uma música que difere do que a banda vem fazendo atualmente. Na última parte do show, de repente se ouve numa voz feminina dizer algo como "a companhia das letras...", era o começo de The National Anthem. Para essa canção, o guitarrista Jonny Greenwood pegou trechos do que estava passando em algumas rádios locais ali na hora do show. A iluminação caótica casou com perfeição com a música. No meio da massa de vozes que era o coro da platéia, ouviu-se um par de "obrhigado" de Thom Yorke, numa tentativa simpática de falar a nossa língua.

Muita gente ali presente se perguntou o por quê da bandeira do Tibet estar distribuída em diversas partes do palco, mostrando mais uma maneira de ativismo do grupo. É que no dia do show do Radiohead, 93 monges tibetanos forem presos na China, após um protesto que eles faziam contra a prisão de um separatista.

A última canção do show, Creep, marcou um final apoteótico. Realmente enlouqueceu o público que gritava junto com Thom Yorke os versos do hit que quase nunca é visto nos shows da banda. A multidão e o Radiohead estavam lindamente sintonizados na mesma frequência.

1 comentarios:

Ugo Sangiorgi dijo...

meldels, as fotos tão muito nítidas, fotografo profissional eh?
comofas/