Marcelo Camelo: ontem, dia 28, na Concha Acústica do TCA.



Foto: Álvaro Andrade

Eu fui pro show de Marcelo Camelo sem ter ouvido o cd dele (sou/nós). Antes de começar, discuti com meus amigos sobre quem seria o público, minha teoria era que seria o mesmo público dos Loser. Pois o show mal começou e deu pra entender tudo: as pessoas à minha volta sabiam as letras de cor. É bem o fanatismo fiel fidelíssimo típico.

Talvez por não conhecer as músicas, me mantive afastada o bastante pra observar outro tipo de coisa: a disposição dos músicos no palco era diferente, em semi-círculo com o banquinho de Camelo no centro; sem cenário, a luz amarelada compunha um espaço aconchegante pela cor quente; e tudo junto sugeria um clima mais intimista, mais sossegado. Por algumas vezes, o refletor de Camelo ficava apagado e colocava a banda Hurtmold em evidência.

A banda, por sinal, é fantástica, os caras tocam muito, mas é engraçado como os instrumentos de sopro dão um quê do 4 a uma música ou outra. Acredito é que Camelo continua fazendo um som losermanístico, enquanto Amarante despirocou na viagem rocker dele. Mas deixemos o ruivo de lado... O xilofone me chamou atenção, é vez por outra uma resposta doce à voz grave de Camelo.

E foi indo tudo muito bom, tudo muito bem, o público delirando em faixas como Solidão (em que mal se podia ouvir o assovio de tanta gritaria) e Liberdade – que o a baiano tanto abriu nessa noite –, mas foi quando Camelo resolveu tocar Morena que a Concha veio abaixo – e eu comecei a não gostar da história. Foi triste ver a Morena desacompanhada, sem a guitarra puladinha que dá ânimo. E pior ainda ouvir a platéia inteira atropelando Camelo, sem paciência de entrar na versão mais lenta que cabia ao voz-e-violão daquele momento. Aliás, essa impaciência do público era notável nas intros mais longas das músicas, ficava um clima tenso, de “começa logo a letra”. Aliás, eu acredito que o público de Los Hermanos vai aos shows muito mais pra ouvir sua própria voz, pra entrar nesse êxtase coletivo, sair febrilmente feliz porque Camelo ou Amarante disserem “vocês são foda”. E aí realmente não tem jeito, nego não canta junto, curtindo a voz do cara, nego berra.

Camelo ainda tocou mais três composições suas da época dos Loser. Pode ser um erro colocar no repertório músicas da banda já que ele está desenvolvendo um trabalho novo agora, ainda que parecido. A verdade é que o público não é necessariamente o mesmo, Marcelo Camelo sozinho pode abranger um público mais maduro e menos dançante, aí fiquei na dúvida se ele quer isso. E ele também delirou com o coro da platéia, disse coisas como “vocês me emocionam” e fez coração batendo por debaixo da camisa, mas não falou nada dos “uh, Los Hermanos” que pipocavam a todo tempo de um lado e outro da Concha. Considero essa mistura perigosa, ele pode correr o risco de não conseguir se desvincular da banda e ter uma carreira de fato solo.

Camelo fez o primeiro bis anunciado de que já tive notícia: pediu um tempo pra tomar uma cerveja e voltar. Ele é um fofo, as composições novas são deliciosas, mas não devia confiar muito nos gritinhos do público soteropolitano. Até agora não sei se a histeria pós A Outra foi pela felicidade em cantar uma letrinha tão conhecida ou por conta do pedacinho de barriga que Camelo se deixou mostrar ao levantar os braços em agradecimento.

Camelo não frustrou seu público cativo, aqueles que foram esperando ouvir Los Hermanos, no fundo, no fundo. Mas eu, que queria a novidade, saí insatisfeita pelas músicas repetidas e principalmente pela gritaria habitual. Ele podia ter fechado com um “eu (ainda) sou o que vocês são”.

Ouça Marcelo Camelo em: http://www.myspace.com/marcelocamelo



escrevi o texto abaixo na intenção de publicar na coluna Satélite, da revista Muito, mas como já tinha saído um com quase o mesmo tema, ele vem pra cá. :)


Cafés escondidos na Rambla
de Barcelona

Texto: Nina Neves  Fotos: Divulgação e Nina Neves (Labfoto)

Um passeio pela Rambla, uma das ruas de maior atração turística de Barcelona, pode guardar muito mais do que as já esperadas estátuas vivas e o monumento de homenagem a Colombo ao final. No último quarteirão, à esquerda, há um discreto portal que indica o Museu de Cera. Ao passar pelo corredor estreito, típico do bairro Gótico, chega-se ao pátio que dá entrada para o Museu e ao verdadeiro tesouro desse lugar: dois cafés.

O primeiro, Passatge del Temps, tem uma atmosfera completamente desligada da Rambla que está logo ali: é um lugar tranquilo, na penumbra, decorado com origamis gigantes, lustres raros, um quadro de borboletas e algumas estátuas de cera que se fazem de clientes. A idéia é sentar-se, perdendo-se nas dobras do tempo e dos origamis, tomar um café e "picar" um bocadillo de jamón (sanduíche pequeno com presunto curado). Para os que preferem doces, tem sempre cañas (rocambole de massa folhada) recheadas de creme e cobertas por raspas de amêndoas.

Passando para o salão seguinte, o visitante se vê num lugar ainda mais peculiar, o Bosc de les Fades. Como o nome sugere, é um cenário de conto de fadas. A luz baixa contribui com o clima de floresta criado por árvores, cachoeirinhas e seres mágicos. Quem passa muito tempo ali dentro, distraído pela sangria ou cerveja, pode acreditar que está mesmo numa gruta, onde crescem musgos e estalactites por todos os lados. Mas aproveitam mais os clientes que levantam dos bancos de madeira e exploram o lugar ou papeiam no balcão. Depois de algumas horas ali, ninguém vai estranhar se você sair sacudindo o pó de pilimpimpim da roupa.



PASSATGE DEL TEMPS /
EL BOSC DE LES FADES
Ptge. Banca, 5, Barcelona. Tel. 93 317 26 49
Horário de funcionamento: 10:00 a 01:00h.
Finais de semana até as 02:00 h.
METRÔ: L3 verde - Drassanes, saída Rambla
ÔNIBUS: 14 - 18 - 36 - 38 - 57 - 59 - 64 - 91