Uma madrugada, o mesmo trem

05.04.2008_ Num dia de solidão doída.

Nesse trem - e nunca pensei que começaria uma frase assim - das 2 e pouca da madrugada, tenho como maior companhia minha respiração. Sobe e desce em minha barriga, chacoalha no embalo dos trilhos e diz, insiste em dizer, que sou só eu. Muito ruído alheio, isso sim. Várias conversas em castelhano, em castelhano bêbado cantado, num dialeto africano calado na boca do negão antes sentado ao meu lado.

Entram umas meninas muito borrachas, muito ruidosas, muito cantantes, cheias de olés tão deslocados nesse País Vasco. Reafirmam minha solidão. Em suas palavras , seus barulhos e batidas de botas no chão fazem trocas, cantam em coro, estão acompanhadas. Eu sem o quê ou o quem da companhia ideal (que nunca conhecerei, posto que é ideal), tenho apenas a essas letras tortas e esse ouvido atento. Um chocolate num bolso, o celular, possível antena pro meu outro mundo, no outro. A moça do Renfe fala depois do tututututu e as moças do acento ao lado me olham. Sinto a solidão aumentar, sinto a vontade martelante de estar em minha casa que é já não sei onde. Em minha cama que é qualquer lugar de abrigo.

Pipipipipi. Meus ouvidos querem escutar Santurce, que a estas horas quer dizer descanso, quer dizer sono e companhia dos sonhos, solidão em paz.

As chaves se precipitam para fora do bolso da mochila.

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