Cochabamba

13.02.2008

Conversam dois trabajadores vascos no ônibus na véspera da greve geral, convocada pro dia 14 de fevereiro:
- ¡Aupa! ¿Y mañana?
- ¿Mañana qué? A principio voy a trabajar.
- Pues por la tarde hacemos una movida, ¿eh? Que hoy estábamos en Gordodiz e nos cortaram...
E logo as palavras se perdem entre o dito e o escrito e só ouço uma frase que concorda com meus princípios políticos e religiosos: andando no voy a venir.

Estou no País Vasco. Quando a Assistência para Assuntos Internacionais da UFBA me ligou e disse que tinha uma vaga na UPV (Universidad del País Vasco) eu topei na hora e assim que desliguei a única coisa que pensei foi: mas não é o lugar do ETA? É.

O ETA está, sim, presente na vida da população, mas não com tanta força quanto podemos imaginar. Se lê eta em alguns ou muitos muros, mas logo quem mora durante qualquer pouco tempo no País Vasco entende que eta é a partícula de conjunção "e" em euskera, o idioma vasco. Que não, a maioria dos muros que leva um eta na cara não foi pichado por terroristas (como um turista desavisado entendeu e publicou no blogue). A bem da verdade é que fora saber que o ETA é daqui, esquecemos do terrorismo. Os pedidos de autonomia sim que estão em todos os postes, janelas, sacadas, carros... Mas no ETA ninguém pensa todo dia. Eu não pensava.

Que tal estar num trem voltando pra casa a noite e ouvir "por motivos de seguridad el tren no va a parar en la estación de Peñota (do lado de Santurce, minha casa). O bien bajáis en Portugalete o bien bajáis en Santurce". Sim, aí o medo veio e eu pensei que coño* poderia estar acontecendo.
Quando chegamos na estação, um pouco de furdunço vasco. Uma coisa assim um pouco mais educada do que nossos conetrrâneos tentando enxergar um acidente, mas a mesma curiosidade pela desgraça. Enquantou baixou a polícia, os bombeiros e a SET daqui, Santurce em peso desceu pra ver o que passava (como quando houve os 5 dias e 5 noites de guerra contra os pássaros**, que Ugo descreveu muito bem no blogue dele). Porto isolado, trânsito desviado, povo contido no parque. Moço, o que tá acontecendo?, perguntei. Amenaza de coche bomba. Cochabamba?, ouvi Ugo fazer a piada no meu ouvido esquerdo. É, carro-bomba.

Pode até ser que desgraça seja ponto de interesse no mundo inteiro, mas eu prefiro ficar quietinha no conforto e segurança de casa.


* Coño é b#c3t@ em castelhano, e aqui sai da boca do povo como nosso porra. Já se esqueceu o significado da palavra, é usada no lugar de qualquer outra coisa e em qualquer lugar.
** Por 5 dias choveu titica em Santurtzi. Eu, aplicada estudante de fotoperiodismo, fui no parque buscar a notícia da luta da prefeitura contra os invasores. Quando cheguei lá embaixo dei de cara com metade da população do pueblo sentada nos bancos, preparada com grada-chuvas e chapéus pro espetáculo do ataque aos pássaros. Sorte que tinha o gorro do casaco, porque levei uma rajada direto na cabeça.
--> Um exemplo do terrorismo do eta na propaganda da Universidad de Deusto. :P

3 comentarios:

Edinaldo Júnior dijo...

Eta, eta, eta, eta...
É a lua, é o sol?
É a bomba do Eta, eta, eta.

=D

¡Que coño!
As gírias, expressões e palavrões renderiam um outro bom post. E ai? Quem vai primeiro? Hehehe

Bjo, Maria

Lígia dijo...

"Quietinha no conforto e segurança de casa", tomando um cappuccino com fejãozinho... Ninon, seu texto está muito gostoso de ler. Só fiquei com algumas curiosidades não respondidas: havia "coche-bomba" mesmo? que houve depois? e a greve dos "obreros" que você bisbilhotou a conversa? por que, onde, quando, como?
Quanto ao comentário de Edi, sem comentários!! No melhor estilo da irreverência baiana.

Breno Fernandes dijo...

Nóis aqui na Galícia, nóis num tem disso, não, moça. Aqui nóis sabi, como tem rabiscunhado no murim de dona Dé de Ló, que as bandera son tudo made in China... :)