Na igreja de Monza

30.12.2008_

Hoje eu tive um momento de epifania na igreja de Monza. Um lugar sem nada de histórico aparente, com tetos e arcos muitíssimo menores que os da Basílica de São Pedro, quase nenhum ouro... Mas me deu um troço entrar naquela igreja quentinha com cheiro de incenso, órgão tocando, velinhas e velhinhas à porta, cada parede impecavelmente coberta de pinturas. A paz, a coisa que eu senti ali foi estrannha para uma pessoa não católica e compreensível para alguém que passou algumas tardes da infância indo pra missa com a vó. Claro que eu não pedia pra ir, claro que eu não gostava de ir, mas aqui, no meio de tanta estranheza (mesmo que boa, mas estranheza), um ambiente que me deu tantas sensações de referências familiares foi reconfortante e também assustador.

E as lembranças me vieram como que flutuando no ar inspirado, me vieram tantas delas que fiquei grudada num banco ao fundo da igreja por muitos minutos. Eram memórias que sempre estiveram ali no ar da igreja, pairando, me esperando... E eu me vi menor que minha vó, numa época em que ela me dava a "asa" e não o contrário. E aí eu sentia as ruguinhas suadas do seu braço macio, atravessava as ruas confiando na firmeza dela (firmeza constante e permanente ) e subíamos os degraus para as pesadas portas verdes da Catedral. Muitas vezes a minha outra mão estava dada à mão de dedos gordinhos de Jú ou à de dedinhos ainda grudados de Rafa. E por tudo isso ir à igreja era chato mas era bom. Eu e Jú nos sentávamos juntas naquelas cadeiras largas que beiram o altar, brincávamos com o leque de minha vó, inventávamos histórias cochichadas, fazíamos os terços de colar, entendíamos pouca coisa da missa (mas alguma coisa, pois P. Antônio sempre se faz entender de alguma forma) e ouvíamos vários, muitos "shius" da cadeira ao lado.

Com o passar dos anos já não cabíamos mais na cadeira; os ossos dos quadris ficavam doídos de se bater e apertar no braço de madeira e a nossa não vontade de ir à igreja aprendeu a se impor.

2 comentarios:

Edinaldo Júnior dijo...

Emocionando, Maria!
=DDD

Lindo!

Lígia dijo...

Só hoje, muitos dias depois de ler e reler este texto, resolvi comentá-lo. Meu primeiro sentimento ao lê-lo foi como experimentar esses zooms de filme, um teletransporte imediato pro Terreiro de Jesus, ru, ali, parada na praça em frente à Catedral, vendo a cena que você descreveu acontecer. E depois adentrar a igreja e ver aquelas duas menininhas aos cochichos e risadinhas. E lembrar um outro tempo, passado e, de alguma forma, presente ainda, pois vivido intensamente. Saudade, emoção, orgulho por minha filha escritora.